quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O ZELO DO TOLO O MATA” (Jó 5.2)


Quando adentramos na vida cristã, parece que uma das poucas coisas que realmente sabemos é que teremos que ser pessoas diferentes. Muitas vezes não sabemos que diferença é essa que deveremos ter em nossa vida a partir da conversão. Outro sentimento que acompanha essa “quase” certeza é a consciência de críticas por parte daqueles que não compartilham de nossa decisão.
Essa vida diferente do cristão alguns chamam de fanatismo, outros de santidade. Alguns dizem que é coisa de iniciante, o neófito. Poderemos ser apelidados de santarrões. A verdade é que o chamado para seguir a Cristo requer uma mudança. Mudança que para mim vem do interior e se revela em nosso exterior.
A nossa vontade de seguir a Cristo pode nos colocar em dois extremos. O primeiro é o estado de apatia. Indiferença diante da necessidade de mudanças. Pessoas a expressa pelo jargão: “Deus só quer meu coração”. O outro extremo é o do fanatismo. Aqui desrespeitamos as pessoas e suas diferenças.
Devemos estar atentos ao alerta: “o caminho da santidade é parecido com caminho do farisaísmo.”
Por que falar do zelo cristão?
A Bíblia nos fala da sublimidade do primeiro amor. Parece ser mais vívido, mais real, mais sincero. Esta sinceridade sem o balizamento dos princípios bíblicos tem conduzido algumas pessoas a ações extremas. Crentes que em nome do zelo cristão exercem o jejum (abstinência de alimentos) por períodos tão longos que debilitam seus corpos, deixando seus familiares e amigos preocupados e acarretando consequências maléficas a sua saúde.
O que dizer de seguidores de Cristo que entram em surto por “buscarem” a Deus de forma tão extrema? Cristãos que só vêem falhas em sua volta e em seus líderes, pois não são tão consagrados como eles.
Será que é esse tipo de zelo que a Bíblia nos ensina?
Proponho olhar o que a Bíblia nos ensina sobre o cuidado com atitudes extremas em nome do zelo cristão.

I - A Palavra Zelo na Bíblia

A palavra zelo ocorre na Bíblia cerca de 38 vezes (Versão Almeida Revista e Corrigida), sendo 25 vezes no Antigo Testamento (AT) e 13 no Novo Testamento (NT). O adjetivo zeloso (e derivados) aparece 12 vezes no AT e 8 vezes no NT (não foi analisada a ocorrência do verbo). Algumas observações são necessárias quando olhamos essas passagens. Em relação ao AT, a maior parte das vezes o termo é usado com relação a Deus. Ele se mostra como “Deus zeloso” (Dt 5.9). Nessa ênfase revelada no texto do AT, temos o zelo como uma virtude; se é algo inerente ao nosso Deus, logo, deve ser desejado por nós.
Ainda no AT, existem três ocorrências que devemos analisá-las. Fazem referência ao zelo no âmbito humano. Uma delas é o título desse texto (Jó 5.2), que nos ecoa como alerta. As outras passagens são relativas ao profeta Elias. Depois de ter realizado grandes feitos em nome do Senhor (ver 1Rs 18), ele temeu os riscos desses feitos. As passagens em que o profeta arroga para si a qualidade de zeloso são 1Rs 19.10 e 14. No contexto desses versículos vemos atitudes do profeta que nos revela a que ponto chegou seu zelo.

II - Um Exemplo do Antigo Testamento, o Profeta Elias

Vejamos as atitudes do profeta que foram condenadas por Deus:


(1) Se achar o único entre os da sua classe – Elias se achava o único profeta entre todo o povo de Deus (1Rs 18.22; 19.10 e 14). Talvez impressionado pela fama que alcançara por ser um homem zeloso (1Rs 18.17). Entretanto ele não sabia que Deus ainda contava com 7.000 homens dignos de serem chamados profetas (1Rs 19.18). Quando nos vemos com muitas virtudes cristãs, não conseguimos enxergar as virtudes do próximo. O profeta chegou a se avaliar tão bom que não queria se contaminar com os outros. Acredito que, como bom judeu, o profeta conhecia a história de Enoque (Gn 5.18-24). Possivelmente essa história o tenha inspirado. Desejou ser retirado dentre os seus irmãos (1Rs 19.4). Sei que ele teve o fim que desejou (2Rs 2.9-14), mas vemos que quando se deu o seu traslado, foi Deus quem o levou. Deus que o avaliou e achou digno de tomá-lo para si. Não foi um desejo próprio do profeta. Vemos nessa situação que o excesso de zelo não nos permite fazer uma avaliação real da nossa situação. Ele nos cega. Achamos-nos melhores que as outras pessoas que nos cercam.


(2) Não fazer análise da situação, fixar-se nos mesmos argumentos – Nas duas vezes que o mensageiro divino fala com Elias ele usa a mesma reposta (1Rs 19.10 e 14). Quase não mudam as palavras, apenas na última reposta é acrescentado o termo “extremo” para relembrar ao anjo o nível do seu zelo. Quando somos tomados por esse zelo perigoso, não conseguimos fazer leituras realistas de nossos problemas. Somos levados a ter as mesmas atitudes, mesmo sabendo que elas não trarão resultados. Somos inflexíveis.


(3) Por fim, o mau zelo nos faz entender que só existe uma forma de se achegar a Deus – Essa forma é a que estamos condicionados. Em 1Rs 19.11 e 12 Deus chama o profeta para uma experiência com Ele. Elias pensara que Deus iria se mostrar da forma a qual ele estava “viciado”. A Bíblia diz que “Deus não estava” nessas intempéries, antes, Deus estava no “quase silêncio”. Nada pior para o extremista que ter suas convicções contrariadas. A exclusão que o extremista faz do seu próximo é exatamente por ele não seguir suas regras de relacionamento com Deus.

Celson Coêlho
Diretor Estadual do DEBQ-PE

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