Mas Jesus insistiu: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus.
Outro lhe disse: Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me dos de casa.
Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus”.Lucas 9:59-62
Temos aqui um chamado de Jesus a duas pessoas diferentes, mas que lhe responderam de modo semelhante. Enquanto Jesus esperava de cada uma delas um profundo comprometimento, elas, por sua vez, estavam presas demais às coisas terrenas e valores familiares.
A primeira queria sepultar seu pai e a segunda queria ao menos despedir-se dos seus. Mas Jesus deixa claro que depois de terem se envolvido com ele, estas pessoas não tinham mais a opção de olhar atrás. Se o fizessem, não seriam aptas para o Reino de Deus.
A verdade é que todos temos dificuldades de abrir mão de determinados valores. Ficamos presos à algumas coisas de nossa vida. Mas quando se trata de seguir ao Senhor, não podemos ter nada que nos prenda. Não podemos mais olhar para trás.
Quem põe a mão no arado, precisa olhar para frente, focar sua meta. Se olhar para trás não será bem-sucedido. Semelhantemente, se queremos servir ao Senhor, a opção de olhar atrás não deve existir.
Olhar atrás significa ter saudades do que deixamos, e Deus não admite isto. Jesus também ensinou acerca disto: “Lembrai-vos da mulher de Ló”.Lucas 17:32
Além de validar o relato do Velho Testamento sobre o que ocorreu com a mulher de Ló, Jesus está nos dizendo que precisamos aprender com ela.
O Velho Testamento está cheio de memoriais. Monumentos ou episódios que não deveriam ser esquecidos. Não para que o povo de Deus ficasse preso à história, mas para que retivesse as lições que serviriam sempre ao mesmo propósito.
A mulher de Ló
Quando o Senhor tirou Ló e sua família de Sodoma, advertiu-lhes claramente a que não olhassem para trás:
“Havendo-os levado fora, disse um deles: Livra-te, salva a tua vida; não olhes para trás, nem pares em toda a campina; foge para o monte, para que não pereças”.Gênesis 19:17
Temos uma figura aqui. Sodoma e Gomorra figuram este mundo perdido e devasso que há de ser julgado por Deus. Mas o livramento de Ló e sua família figuram nossa salvação e livramento do juízo e condenação deste mundo. Mas para não ser julgado com o mundo, não basta apenas sair geograficamente dele. É preciso que nosso coração também saia de lá!
Ao ordenar que não olhassem atrás, Deus estava dizendo que seria o fim de tudo aquilo, e que o coração deles deveria estar totalmente desprendido.
Mas a mulher de Ló desobedeceu a ordem divina.
“E a mulher de Ló olhou para trás e converteu-se numa estátua de sal”.Gênesis 19:26
A concordância de Strong mostra que a palavra hebraica traduzida para olhar é “nabat”. Também significa “contemplar, mostrar consideração a, prestar atenção”. Não fala de alguém que olhou por curiosidade para ver o tamanho do estrago produzido pelo juízo divino. Fala de alguém que tinha seu coração preso ao que deixou, mostrando com isso consideração pelas coisas que havia abandonado. A mulher de Ló é uma figura do comportamento de muitos crentes de nossos dias, e por isso deve ser lembrada.
Há muita gente que não consegue se desprender das coisas das quais Deus os libertou. Aquilo que um dia te prendeu, potencialmente ainda é um perigo. Por isso Paulo advertiu aos galátas dizendo:
“Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão”.Gálatas 5:1
O apóstolo nos revela que o mesmo jugo de escravidão que nos oprimiu um dia, tentará pesar sobre nossos ombros novamente.
Precisamos entender que o fascínio do mundo e os pecados que nos acorrentaram um dia, ainda são um perigo para nós depois da conversão. Se não quebrarmos os vínculos com o passado, podemos nos ver presos de novo. Assim como a mulher de Ló foi roubada de sua vida tornando-se uma estátua de sal, podemos também perder a vida de Deus em nós pelo fato de olhar para trás.
É por isso que nossa primeira mensagem deve ser sempre o arrependimento. Esta era a mensagem de Jesus (Mc.1:15). Era a mensagem que ele deu aos apóstolos (Lc.24:47). É um dos rudimentos da doutrina de Cristo (Hb.6:1,2). Quando mostramos a alguém que ele é um pecador, qual sua condição em consequência disto, bem como o preço colhido do pecado, estamos levando-o a uma possível quebra de vínculos com seu passado.
Sem um profundo arrependimento e dor pelo pecado, o crente pode ter saudades daquilo que deixou e olhar para trás.
No coração voltaram ao Egito
Existe dois tipos distintos de desviados.
Há aquele tipo de desviado que vira as costas para Jesus e a Igreja e volta para o mundo:
“...Demas me abandonou, tendo amado o mundo presente, e foi para Tessalônica...”II Timóteo 4:10
E também há aquele tipo de desviado que se desvia só em seu coração, embora continue fisicamente no caminho. Foi a estes que Estevão se referiu em sua mensagem, quando mencionou a geração de israelitas que saiu do Egito e rejeitou o ministério de Moisés:
“É este Moisés quem esteve na congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai e com os nossos pais; o qual recebeu palavras vivas para no-las transmitir.
A quem nossos pais não quiseram obedecer; antes, o repeliram e, no seu coração, voltaram para o Egito, dizendo a Arão: Faze-nos deuses que vão adiante de nós; porque, quanto a este Moisés, que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu.
Naqueles dias, fizeram um bezerro e ofereceram sacrifício ao ídolo, alegrando-se com as obras das suas mãos”.Atos 7:38-41
A frase: “no seu coração voltaram ao Egito” revela a atitude de olhar para trás e desejar aquilo que foi antes deixado.
Eles não voltaram literalmente ao Egito, da mesma forma como muito crente não chega a abandonar a Igreja, mas no seu íntimo viviam lá, como muito crente faz, sem se desligar das práticas (ou fantasias) mundanas.
Veja o que a Bíblia diz sobre como procediam:
“E o populacho [povo misto] que estava no meio deles veio a ter grande desejo das comidas dos egípcios; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar e também disseram: Quem nos dará carne a comer?
Lembramo-nos dos peixes que, no Egito, comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos.
Agora, porém, seca-se a nossa alma, e nenhuma coisa vemos senão este maná”.Números 11:4-6
Tem muito crente assim na Igreja. Gente que sente saudades da bebida, das drogas, do sexo ilícito, das festas e de toda sujeira mundana e do pecado do qual foram libertos por Jesus.
Eu acho isto muito, muito curioso. Não se lembram que antes eram escravos, que sofriam, que era um tempo difícil e de perseguição. Conseguem ter saudades apenas do que eles achavam que era bom. Esta atitude interior de saudade do que foi deixado, é olhar para trás como a mulher de Ló olhou. É voltar ao Egito, ainda que não seja de modo literal.
No coração, estão voltando para lá. Na verdade, acredito que antes do desvio que envolve o abandono de tudo, a pessoa começa se desviando em seu coração.
Alguém disse que tirar o povo do Egito não é tão difícil como tirar o Egito de dentro do povo. Por isso a experiência de conversão não deve ser banal. A pessoa tem que saber valorizar aquilo que está abraçando e saber rejeitar para sempre o que está abandonando. O arrependimento genuíno produzirá este tipo de atitude em nós.
Consciência espiritual
O Senhor Jesus instituiu a Ceia da Aliança com o propósito de nos manter conscientes da sua morte e redenção por nós (I Co.11:24,25). Isto nos faz perceber que devemos alimentar a gratidão e o compromisso através da lembrança do que foi feito por nós.
Esquecer-se do que éramos e do Cristo fez por nós é pura ingratidão. Pedro se refere de forma negativa àqueles que se esqueceram da purificação de seus pecados de outrora:
“mas aquele em quem não há estas coisas, é cego, vendo só o que está perto, porque se tem esquecido da purificação dos seus pecados antigos”.II Pedro 1:9 (TB)
Para olhar para trás é preciso se esquecer do que éramos e do preço que foi pago. Portanto, uma boa forma de nos guardar é manter o nosso coração consciente destes fatos em todo o tempo. Assim, não mais olharemos atrás e nos conservaremos firmes em nossa fé.
Firmeza
Alguns acham que nada devemos fazer por nossa firmeza, mas o fato é que as Escrituras nos ensinam que devemos intencionalmente fazer mais firme a nossa vocação, evitando assim de tropeçar, ou voltar atrás.
“Por isso, irmãos, ponde cada vez maior cuidado em fazer firme a vossa vocação e eleição; porque fazendo isto, não tropeçareis jamais.
Pois assim vos será dada largamente a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. vinda de Cristo”.II Pedro 1:10,11 (TB)
Somos ordenados pela Palavra do Senhor a vigiar e cuidar de nossa própria firmeza. Contudo, muitos crentes vivem como se nunca tivessem recebido esta ordem. Transferem o cuidado de si sobre outros, mas o fato é que isto é responsabilidade nossa, e de mais ninguém:
“Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que... descaiais da vossa própria firmeza”.II Pedro 3:17 “
Prevenir-se. Acautelar-se. São palavras que indicam uma atitude (e responsabilidade) que Deus nos deu. E o propósito e não descair da própria firmeza. Ao falar assim, o Senhor nos mostra que a queda é uma possibilidade, mas nos mostra que pode ser evitada por prevenção e cuidado.
Voto de compromisso
Acredito que em nosso coração devemos firmar um compromisso formal com Cristo de não deixá-lo jamais. Ele prometeu que estaria conosco todos os dias (Mt.28:18). Também prometeu não nos abandonar:
“...porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei”. Hebreus 13:5
Se Deus prometeu não nos abandonar, porque nós não deveríamos fazer o mesmo?
Autor: Paulo Cininha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário