quarta-feira, 20 de julho de 2016

Pregação cristocêntrica - como fazê-la?



Pregação cristocêntrica - como fazê-la?



Chegou o domingo, lá vamos nós para o culto. Quando pensamos em “culto”, a primeira coisa que nos vem à mente é o sermão (ou “mensagem”, para os renovados). O culto como um todo é avaliado pela qualidade do sermão. Em realidade, o sermão, como pregação da palavra de Deus, é o momento central da edificação da Igreja. Sabemos que “a palavra de Deus não volta vazia” (Isaías 55) e que a palavra é viva e eficaz (Hebreus 4). Sabemos que devemos prestar máxima atenção ao sermão, a fim de retermos o que “Deus quer nos falar hoje”. Com esses pensamentos, estamos pressupondo que, de fato, o que está sendo pregado é palavra de Deus mesmo, e não de homens.

Mas esse pressuposto frequentemente é frustrado. Ora, é fácil perceber a terrível decadência das igrejas hoje. E colocamos frequentemente a culpa nas pregações. Sabemos criticar pregações extremamente hereges, como as de “teólogos” da prosperidade, ou as ofertas de “venha para Jesus e pare de sofrer”. Mas a nossa visão precisa ser um pouco mais ampla. Esse não é o único desvio possível das pregações. Essa não é a única forma de pregar palavras humanas, e não as de Deus. Não é qualquer sermão baseado num texto bíblico, com uma interpretação mais ou menos razoável, que pode ser considerado edificante. Ao dizer que um sermão é edificante ou não, antes que eu seja mal compreendido, refiro-me à responsabilidade humana ao pregar, não à graça de Deus que pode efetuar edificação mesmo pelo pior dos sermões.

Vamos pensar numa situação não tão extrema. Como as aplicações bíblicas nas pregações costumam ser feitas? Eu diria que há duas maneiras de fazer pregações não cristocêntricas: autoajuda e moralismo. Em “pregações de autoajuda”, estão aquelas que falam apenas no amor de Deus: em como ele cuida de você, em como ele o capacita a vencer na vida, em como ele tem planos maravilhosos para você, como você pode ser feliz e ser o máximo da autoestima, como ele protege você dos perigos, etc. Já as pregações de moralismo são aquelas em que o pregador “desafia” você a, a partir de hoje, cumprir um certo mandamento em que você supostamente está falhando. São as que conclamam o público a fazer um grande esforço moral para obedecer a Deus. São as que apenas dizem o que você deve fazer e o que você não pode fazer, e deixam você com aquela reflexão sobre alguma falha moral que você ainda tenha. O problema dessas duas pregações é que elas dispensam a necessidade do evangelho. Mesmo que a pregação seja ortodoxa, ela não fala sobre Jesus e sobre a graça. Sermões como esses não são edificantes.

Como fazer uma pregação realmente cristocêntrica? Em primeiro lugar, você precisa retirar das pessoas a sensação de capacidade para salvar a si mesmas. Não é como se o crente pensasse conscientemente “ah, se eu fizer o que o sermão está mandando, serei salvo”, mas, para um número incrivelmente grande de crentes, a salvação pela graça é apenas uma abstração na qual eles têm de acreditar. O coração é altamente enganoso neste ponto. Você pode afirmar que é um pecador salvo pela graça, mas, lá no seu coração, você está confiando e contando com o seu estilo de vida para ser justificado. O pregador precisa afirmar de púlpito que você não é capaz de cumprir aquele preceito moral. Você transgrediu aquele princípio. O ouvinte precisa ser confrontado com a lei. Com isso, ele fica em posição humilde e dependente da graça.

Além disso, a pregação precisa falar sobre como Jesus cumpriu essa ordem moral por você. Jesus foi o único que cumpriu toda a lei de Deus. Ele fez isso para que, pela sua vida perfeita, você fosse perdoado de sua transgressão. E esse perdão custou-lhe a vida. Ele teve de morrer para que você fosse perdoado, tamanha foi sua transgressão. Veja, a cruz, na pregação, não serve só para dizer ao ouvinte sobre como Deus o ama, mas sim sobre como isso foi custoso. Para nós, a salvação é de graça, mas, para Deus, custou o seu Filho. A grandeza desse custo é um reflexo da grandeza de nossa rebeldia. Na cruz, o homem é exaltado aos céus e humilhado ao chão. Sermões de autoajuda falam apenas sobre o lado do amor da cruz, não mencionando que tamanho sofrimento na cruz foi necessário por causa da nossa maldade. Somos valorizados ao mesmo tempo em que somos terríveis. E, por causa desse sacrifício de valor infinito, somos perdoados de nossa transgressão e recebemos, em lugar da nossa justiça torta, a perfeita justiça de Jesus, pela qual Deus nos recebe de volta. Além disso, sermões de autoajuda repudiam o sofrimento. Tratam o sofrimento como falta de fé ou de piedade. Ou então, no mínimo, tratam-no como algo estranho de que você precisa ser liberto logo. E o sofrimento de Cristo? Ele não achou que o inimaginável sofrimento dele – suportar a ira concentrada de Deus contra os pecados de toda a humanidade, sem falar na própria cruz, açoites e espinhos – algo de que ele deveria se livrar. Sofrer por ser inocente é louvável, como diz 1Pedro. Sofrimento é totalmente adequado para a vida cristã. As circunstâncias difíceis da vida do ouvinte não deve ser o centro da pregação, pois o ouvinte receberá como deus em seu coração qual for o tema principal do sermão.

Em seguida, vem a conclusão: porque Cristo cumpriu o mandamento em nosso lugar e nos serviu como substituto, pela sua graça, pela sua obra santificadora, podemos enfim cumprir esse mandamento. Veja, a obediência não vem de um esforço moral sobre a vontade, mas sim do que Jesus fez por nós, aos nos capacitar e nos perdoar. Você não busca a santidade porque você quer, consegue e precisa, e sim porque, sendo você achado em falta na santidade, Jesus veio e conquistou a santidade por você. Um sermão moralista tem a estrutura “este é o texto, este é o mandamento, vá e obedeça”. Um sermão cristocêntrico diz “este é o texto, este é o mandamento, esta é sua transgressão. Esta é a maneira pela qual Jesus cumpriu o mandamento, este é o aspecto do seu sacrifício que perdoa você nessa transgressão, e é assim que Jesus o ajuda a obedecer”. Quando o ouvinte compreender que Jesus é o que importa em sua vida, não precisará mais de sermões de autoajuda cuja ênfase recai sobre si mesmo. Jesus já nos deu toda a ajuda que precisamos em sua obra. E conquistou para nós a santificação que os sermões moralistas dizem para você conquistar.

Por que as igrejas estão cheias de crentes moralistas? Em parte, porque os sermões estão incentivando. Por que há tantos crentes desesperados e desorientados? Porque os sermões de autoajuda colocam sobre o ouvinte uma necessidade de se angustiar por algo que não tem importância alguma em comparação com a salvação dada por Jesus. Somos acostumados a buscar na Bíblia palavras de consolo ou de mandamentos morais e, assim, tornamo-nos egocêntricos em nossa compreensão teológica. Sermões moralistas fornecem vitaminas de legalismo; sermões de autoajuda fomentam o relativismo. Sermões que falam sobre o evangelho são o alimento de um pecador salvo pela graça. Estamos enganados quando pensamos que sermões sobre a salvação em Cristo são apenas uma lição básica para converter descrentes. Na verdade, o evangelho é o norte de toda a vida cristã, em todos os seus aspectos.

Vamos a alguns exemplos. Ao pregar sobre Romanos 14, não diga que “precisamos ter união e pronto”. Diga que havia uma separação, baseada em conceitos humanos, e que Jesus, ao receber fariseus e flagrantes pecadores, ricos e pobres, judeus e gentios, não fez entre eles acepção. E, ao dar a sua vida por todos esses tipos, removeu a inimizade natural entre os homens. Por meio de Cristo, os irmãos, por mais diferentes que sejam em pontos periféricos da vida, podem se unir em torno do amor. Porque Jesus mostrou o que realmente importa em seu ato sacrificial universal, não precisamos mais buscar significância em opiniões particulares criadas por nós mesmos.

Em Davi e Golias, não pregue que você deve ser como Davi, corajoso e destemido, para vencer os gigantes na vida. Lembre-se, o herói da história é Jesus, nunca é você. Você é como os israelitas que estavam morrendo de medo daquele gigante. Davi foi o homem que arriscou a sua vida para dar vitória ao seu povo. Jesus foi ainda mais grandioso, porque ele não apenas arriscou a vida dele, mas realmente deu a sua vida. Jesus foi triunfante sobre o maior dos gigantes, o pecado e a morte. E o seu triunfo nos é imputado.

Em 1Coríntios 6, a lição da história não é “não profanem o seu corpo cometendo imoralidade”. O centro do ensino de Paulo é “vocês foram comprados por alto preço”, e então ele dá a consequência “portanto, glorifiquem a Deus com o seu corpo”. Veja, não há lição bíblica que não dependa do que Jesus fez por nós. A pregação sobre esse texto deveria ser assim: todos nós transgredimos a lei ao usar o nosso corpo para nossos próprios prazeres errados. Jesus Cristo, ao contrário, ofereceu o seu corpo para cumprir a vontade de Deus integralmente. E a sua oferta foi muito mais penosa do que a que foi requerida de nós. Deus nunca pediu para que oferecêssemos nossos corpos para morrer em uma cruz, e ainda assim nós ignoramos seus mandamentos. Mas Cristo glorificou a Deus com o seu corpo até o fim. Ele deu o seu corpo para ser açoitado, rasgado e pregado numa cruz, e depois ressurgiu em um corpo renovado. Por meio de Jesus, podemos nós também oferecer nossos corpos para a vontade de Deus. Por causa do que ele fez, temos também a esperança de ter nossos corpos renovados para servirmos a Deus eternamente, o que retira de nós a necessidade de fazer tudo para nós mesmos. Não estamos mais presos no “aqui e agora”. Não precisamos mais temer que a vida passe e que não tenhamos dado prazer suficiente a nós mesmos. A partir da purificação efetuada por Jesus, temos prazer em Deus para sempre com nossos corpos.

Ao pregar sobre Jonas, não dê simplesmente a lição “obedeça a Deus”. Pregue que Jesus é o Jonas que realmente foi lançado fora às profundezas da terra para aplacar a ira de Deus sobre nós. Jesus é a oferta que desvia o furor de Deus sobre nós, os pecadores. Agora, podemos nos achegar a Deus como filhos, sem pavor. A história de José não é um ensino “não cometa adultério, e no final vai dar tudo certo”. É uma ilustração do próprio Jesus, que foi rejeitado pelo que eram seus, mas que, após sofrer injustamente, governa à direta do Rei e salva aqueles que o traíram - nós. Jesus é o melhor Abraão, que viveu em fé sem jamais vacilar, cumprindo a vontade de Deus e, por consequência, a própria aliança iniciada no patriarca. Jesus é o verdadeiro tabernáculo, o templo, o rei, o profeta, o sacerdote, o pão que desce do céu, a água da vida, o cordeiro pascal, o maior missionário, o mediador de uma nova aliança, o logos do universo, o guerreiro que oferece sua vida para dar vitória ao seu povo, o verdadeiro tesouro, o maior mestre, o pleno descanso sabático de nossas obras, o anjo que executa juízo sobre a Jerusalém ímpia, a luz dos gentios, o máximo do sofrimento inocente, o sacrifício purificador e definitivo, o holocausto que nos move à gratidão, a perfeita imagem de Deus.

A Bíblia não é sobre o que você deve fazer, e sim sobre o que Deus fez por você. As pregações precisam ser feitas assim. Repare em quantos sermões são feitos sem mencionar “Jesus”, “graça”, “pecado”, “cruz”, “ira”, “redenção”, “regeneração”. Precisamos voltar a reconhecer o evangelho como o centro do culto. Pois Cristo é o Cabeça da Igreja, em torno do qual devemos nos ajuntar em submissão, humildade e gratidão.

André Duarte

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

ESTRÉIA - PROGRAMA VEM - 06/02/2021 - SÁBADO - 17:10.

  REALIZAÇÃO E APOIO E  MINISTÉRIO VEM BRUSQUE SC